quarta-feira, 3 de março de 2010

Aprendendo costumes.

Eles costumavam falar de amor, e eu só sabia ser amável, as pessoas me rodiavam de carícias e eu retribuía sem questionar. O dia era cor, e a vida era a mistura de todas elas, quando me falavam dos dias cinzas, eu apenas me calava, nada que predominasse em minha passagem, mas algo momentâneo que eu aprendia a lidar. Era de meu costume sentar-se junto à janela, um pouco mais do mar verde. Lá, o mundo era pequeno, porém não menos errôneo e instigante, e com meu livro-diário a tiracolo, eu apenas contemplava e me questionava. Tudo que estava ali, estava em mim, era uma espécie de ascenção humana, sugava tudo de agradável que me proporcionavam, o desagradável me consumia involuntariamente também. Estaria registrado o meu egocentrismo, porém nunca petenceria a mim infinitamente, tudo estava em constante mutação. Eu tinha o costume de generalizar, mas sentia que faltava tanta coisa dentro daquele tudo, convencida de que nunca seria suficiente eu só sabia escrever. Sentindo a ausência presente, novamente, voltava ao 'meu' mar verde. Mais uma vez, meus pensamentos sussurravam amor e eu como visitante o deixava sorrir, esquentar e permitir, e só depois eu retornaria para casa, com uma dose maior, sabendo ainda menos o que seria, mas mudada e livre para um ser novamente.

"...sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros."

Carlos Drummond de Andrade.

Um comentário:

  1. "O dia era cor..."

    Despedaçada em tons cinzas,
    Reconstituída num mosaico de cores

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